Encontro PARTÍCULAS
O Encontro PARTÍCULAS se realizará de 4 a 6 de
dezembro de 2013 na Universidade de Brasília (UnB). Convidamos os interessados
em participar a submeter seus resumos sobre esse tema até o dia 31 de agosto de 2013. Português é a
língua recomendada para as apresentações, mas espanhol e inglês são igualmente
aceitos.
Raras são as descrições de línguas que prescindem
da noção de partícula. Mais raras ainda aquelas que fornecem da categoria uma
definição outra que negativa ("aquilo que não coube em nenhuma das classes
identificadas até aqui") ou enumerativa ("os morfemas x, y, z").
As abordagens mais teoricistas não se saem muito melhor. As partículas têm
merecido uma atenção bem menor de que outra noção problemática, a de clítico. E
quando a mereceram, algumas foram assimiladas à categoria dos clíticos , outras
à subclasses de subclasses de classes mais convencionais de palavras (o to do infinitivo inglês seria o
único componente de uma dessas sub- sub- subclasses). Resultado: as partículas
têm pouca ou nenhuma existência como ente sintático, porém fenômenos
gramaticais continuam sendo estudados, qualquer que seja o referencial teórico,
em termos de partículas. Devemos nos perguntar se sua inconsistência formal e
sua heterogeneidade funcional decorrem de uma propriedade inerente à
morfossintaxe em si: ela detém regiões mais ou menos desprovidas de estrutura
(a princípio, o próprio do léxico). Ou se tal situação é simplesmente fruto da
incúria dos linguistas na hora de se deparar com os dados concretos das línguas
particulares. Se esse for o caso, não deixaria de lembrar o desafio que encarou
nos anos setenta E. Keenan acerca do sujeito. É sabido que aquele celebrado
artigo não cumpriu com o que o título prometia, pois nele simplesmente
respondia-se à pergunta: o que os linguistas costumam chamar de sujeito? Mas
não há dúvida de que sua proposta de inventário racionalizado e classificado
deu o rumo para o subsequente inquérito sobre a motivação funcional e as
propriedades formais do sujeito. Transposta às partículas, a empreitada de
Keenan enumeraria 1) traços formais não definitórios (não exclusivos da
categoria) como: acentuado, fonologicamente leve, relativamente livre,
invariável, de classe fechada, com distribuição sintagmática peculiar (e.g.
Wackernagel), e 2) conteúdos funcionais tais como: estrutura informacional
(foco, tópico, definitude, delimitação dos referentes), arquitetura discursiva
(conexões, discurso direto / indireto), polaridade, modalidade, aspecto, tempo,
fonte da informação, atos de fala (asserção, injunção, exclamação, pergunta,
chamada), honorificidade, deixis, classificação nominal, dependência (caso, subordinação).
Até 3) dicas heurísticas: há partícula quando é árduo dizer se é clítico ou
palavra; é difícil identificar sua função (alemão doch); falta metalinguagem para a forma ou a função; seu
conteúdo depende em alto grau do contexto discursivo; parece advérbio, só que
com significado gramatical.
Se espera do encontro uma reflexão coletiva
encaminhada, desde a observação da multifacetada realidade empírica que encerra
a diversidade das línguas, ao trabalho de inventoriar e sistematizar nosso
conhecimento dos aspectos formal e funcional daquilo que vem sendo chamado de
partículas. As contribuições se firmarão em sistemas gramaticais particulares,
ESPECIALMENTE AQUELES EXIBIDOS POR LÍNGUAS POUCO ESTUDADAS (estas línguas,
menos sujeitas ao peso das tradições de análise, favorecem a renovação dos
quadros de observação; obviamente as partículas precisam disso). Idealmente, as
contribuições almejarão propostas de caracterização das partículas que sejam
não só operacionais no bojo de uma língua individual, mas também generalizáveis
interlinguisticamente. Para tanto, é importante distinguir de entrada entre uma
opção que gera categorias discretas e outra baseada na noção de protótipo.
Espera-se também um esforço de explicitação, aprofundamento e classificação das
funções semânticas e pragmáticas das partículas. Serão bem vindas, outrossim,
as considerações de índole metodológica que tragam à tona as técnicas
empregadas nas fases de observação e descoberta, principalmente durante o
trabalho de campo, e a qualidade dos resultados atingidos por esses meios.
O evento é organizado pelo Núcleo de Tipologia
Linguística, grupo de pesquisa formado pelos linguistas Adriana Estevam, Aline
da Cruz (UFG), Dioney Gomes (UnB), Flávia de Castro Alves (UnB), Francisco
Queixalós (SeDyl/CNRS), Léia Silva (UFG), Marina Magalhães (UnB) e Walkiria
Praça (UnB), que objetiva descrever e analisar línguas indígenas sulamericanas
por ser o conhecimento científico dessas línguas uma prioridade da linguística
atual. As línguas autóctones da América do Sul podem representar uma
contribuição não só à validação das propostas teóricas que dizem respeito à
natureza da linguagem humana, mas também à descoberta de fenômenos que tais
propostas deverão incorporar ao seu arsenal explicativo.
RESUMOS: O
último dia para o recebimento dos resumos é 31 de agosto de 2013.
Os resumos devem ser no formato word ou
pdf, ter no máximo 500 palavras e devem ser enviados para o endereço particulasunb@gmail.com. Serão aceitos apenas um resumo por autor. Uma mensagem
sobre a aceitação ou a não aceitação do trabalho será enviada até 30 de
setembro.
INSCRIÇÃO:
Estudantes: R$40
Não-estudantes: R$100
Participantes indígenas terão isenção da taxa de
inscrição.
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