4º Congresso Internacional de Dialetologia e Sociolinguística
O 4º Congresso Internacional
de Dialetologia e Sociolinguística é a oportunidade para campos disciplinares
historicamente relacionados, ainda que cada um privilegie abordagens
específicas para seu objeto de estudo, interrogarem-se sobre as ferramentas
metodológicas, os conceitos operatórios e a relação complexa entre os segmentos
linguísticos estudados, o ponto de vista adotado e os resultados obtidos.
Por essa razão, o congresso
se concentrará em três temas em torno dos quais desejamos organizar um debate
que interrogue um dos conceitos-chave da dialetologia e da sociolinguística: a
variação. O objetivo é sair dos caminhos já percorridos para opor pontos de
vista sincrônicos e diacrônicos, relacionar os diferentes tipos de variação,
sem se limitar a um único parâmetro, avaliar a pertinência epistemológica desse
conceito e a mais-valia teórica que ele pode trazer, particularmente, em
dialetologia e sociolinguística. Tal reflexão é ainda mais urgente pelo fato de
que as situações linguísticas com as quais somos cada vez mais confrontados na
área são de uma complexidade tão grande que as fronteiras entre dialetologia e
sociolinguística encontram-se, por vezes, um pouco obscuras. Esse é o caso, por
exemplo, das situações inéditas nas megalópoles no mundo inteiro em que se
praticam usos cruzados, misturados, embaralhados etc. e onde pequenas ilhas
linguísticas resistem diante da padronização generalizada pela globalização das
trocas e do desenvolvimento vertiginoso dos meios de comunicação.
Também seria pertinente
interrogar-se sobre as diferentes estratégias adotadas pelas comunidades
linguísticas para preservar suas identidades, conservando os laços necessários
com círculos próximos e distantes. Identidades e diferenças representariam,
assim, os dois termos de um eixo em torno do qual se articulariam questões
relativas às posturas linguísticas adotadas pelos indivíduos e grupos sociais,
à preservação dos patrimônios linguísticos enquanto marcadores identitários
muito poderosos, às políticas linguísticas conduzidas nos países de imigração e
de acolhida, em que a gestão linguística, ligada à da integração, é considerada
como central. Tantas questões colocam-se em torno das dimensões geográficas,
étnicas e sociais das línguas, dentre as quais queremos privilegiar um dos
aspectos mais notáveis da idiomaticidade, o da fraseologia.
Este segundo tema do
congresso, que se articula totalmente com o primeiro, tem o mérito de evocar
aspectos que abrem caminho para todo um segmento da pesquisa relativamente
inexplorada nesse domínio: considera-se fraseologia toda associação
sintagmática que mostre um grau mínimo de invariabilidade tendo por
contrapartida um sentido global próprio, em ruptura total ou parcial com o
sentido composicional do sintagma livre correspondente. O fato de deslocar o
centro de interesse da palavra para o combinatório das palavras permite
integrar um conjunto de novos elementos significativos nas diferentes
realizações linguísticas: a característica que parece “natural” aos nativos de
certas combinações, seu aspecto pré-construído, apropriado e conveniente, sua
cristalização no léxico e especificidades semânticas fazem delas suportes
privilegiados de conteúdos estereotipados compartilhados pelos falantes de uma
mesma língua. É no discurso que as sequências polilexicais nascem, empregam-se,
cristalizam-se e terminam por migrar para a língua. Esse ponto estabelecido
entre discurso e língua traduz a dinâmica fundamental de toda comunicação
verbal: é graças à língua que se constrói o discurso, e é no discurso que nasce
a língua. Esse movimento perpétuo permite tirar a pesquisa linguística das
visões estáticas correntes e direcioná-la para abordagens complexas que
integrem a dinâmica do objeto linguístico. Assim, para estudar os fatos
fraseológicos, teríamos a necessidade de levar em conta todos os aspectos
linguísticos (léxico, morfologia, sintaxe, prosódia, semântica, pragmática
etc.), de todas as configurações das sequências polilexicais (que vão da
palavra ao texto, passando pelo sintagma e pela frase) e a dimensão enunciativa
(que implica, entre outros, todos os marcadores relativos aos agentes da
situação de enunciação). É essa complexidade do objeto fraseológico que impõe,
pouco a pouco, trabalhos que tentam sair da compartimentação entre as
disciplinas das ciências da linguagem e levar em consideração as contribuições
de disciplinas conexas, como a tradutologia, a didática, a aquisição das
línguas, o tratamento automático etc. É pelo viés das ferramentas da
informática, por exemplo, que as ciências da linguagem vivem, atualmente,
mudanças que levam os linguistas a se interrogar, entre outras questões, sobre
a coleta de dados, sua estruturação e as diferentes explorações que podem
fazer.
Disso resulta o terceiro
tema, o dos recursos, termo cada vez mais empregado, sozinho ou em concorrência
com outros, como dados, corpus etc. O congresso seria a oportunidade de
discutir trabalhos relacionados com a coleta de dados, com tudo o que isso
implica, como precauções metodológicas, sua natureza (oral ou escrita),
tratamento, arquivamento, exploração etc. Em conformidade com os aspectos
logísticos, poderíamos evocar novos métodos de trabalho que se tornaram
possíveis graças à internet e às plataformas que fazem emergir diversas formas
de trabalho colaborativo, acumulável e relativamente controlável. Além disso,
vários questionamentos que apresentam interesse epistemológico fazem-se cada
vez mais urgentes: Qual a relação entre as ferramentas da informática, o objeto
estudado e o pesquisador? As exigências da informática modificam o objeto
estudado? Elas não criariam artefatos que teriam um impacto direto sobre os
resultados previstos da pesquisa? Como melhor explorar as possibilidades
extraordinárias do digital para melhor preservar os patrimônios linguísticos,
particularmente para as línguas ameaçadas ou em vias de extinção? Que impacto
essa evolução poderia ter sobre as abordagens linguísticas, como, por exemplo,
em matéria de história, criações neológicas, marcadores estilísticos etc.?
Em conformidade com esses
três temas, tomados isoladamente e em interação uns com os outros, serão
privilegiados os seguintes eixos:
– Geografia linguística:
investigações, recursos, descrições etc.
– Contato de línguas:
línguas veiculares, nacionais, vernáculas, indígenas, autóctones, dialetos,
falares etc.
– Observações linguísticas:
reflexão epistemológica e teórica, bases de dados, corpus de referência etc.
– Atlas linguísticos:
coletas de dados, métodos de análise, representações cartográficas,
informatização etc.
– Reflexão teórica:
avaliação dos conceitos metodológicos, inovações teóricas, unidades de análise
linguística etc.
– Aplicações: lexicografia,
aprendizagem das línguas, ajuste linguístico, tradução, engenharia linguística
etc.
– Dialetologia urbana:
mistura linguística, padronização, insegurança linguística, mercado linguístico
etc.
– Códigos criptonímicos:
jargões, gírias, especificidades linguísticas socioprofissionais;
– Cristalização: colocações,
sequências cristalizadas, paremiologia etc.
– Discursos especializados:
vulgarização terminológica ou (des)terminologização, terminologia, marcas
fraseológicas etc.
– Criatividade lexical e
discursiva: neologia, descristalização, os empregos lúdicos etc.
DATAS IMPORTANTES
Descrição
|
Prazos
|
1ª chamada de trabalhos
|
30 de outubro de 2015
|
Último dia para envio de
resumos
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4 de janeiro de 2016
|
Prazo limite para
avaliação dos trabalhos
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5 de fevereiro de 2016
|
Aceite
|
De 5 a 10 de fevereiro de
2016
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